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Um Gênero e Inúmeras Questões por Dilvo Rodrigues

Hoje eu vou abrir mão do humor. E será um das poucas vezes em muito tempo que lançarei mão da seriedade para falar do Dia Internacional da Mulher. Particularmente, tenho um pé atrás com essas “datas comemorativas”. O motivo principal da minha desconfiança é baseado na mercantilização delas. Porém, esses momentos podem ser reveladores e mesmo esclarecedores sobre o que somos e o que nos tornamos.

Algumas delas servem para mostrar que somos totalmente incoerentes e, posso dizer falsos e mesquinhos. Eu vejo isso muito claramente, por exemplo, na data em que se comemora o Dia da Consciência Negra. O Governo, a mídia e nós mesmos, cidadãos comuns, ficamos com aquele discursinho bonitinho de que tem de refletir, que isso, que aquilo. No outro dia, questionamos a existência das cotas para os negros e afrodescendentes praticadas nas universidades públicas desse país, não concordamos que o governo ajude financeiramente a população pobre, que em sua maioria se constitui de negros e afrodescendentes. Existem outras datas em que é mais possível ver o quão nosso país é desigual e o quanto nossos objetivos e visões se divergem. Acho que no Dia Internacional da Mulher é possível constatar isso.

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Essa data é resultado de uma série de reinvindicações por melhores condições de trabalho e de vida que as mulheres começaram a realizar no contexto das revoluções industriais do inicio do século XX. Durante o período da Primeira Guerra Mundial, as mulheres foram recrutadas em massa para trabalhar nas linhas de produções industriais da Europa e dos Estados Unidos. Mas, e hoje, como seria ter uma visão moderna ou contemporânea, se assim queiram, das lutas e reivindicações das mulheres? Na minha opinião, é impossível responder sem levarmos em conta a estratificação ou, em outras palavras, a desigualdade sócio econômica brasileira. Ou seja, se por um lado, um grupo de mulheres reivindica a equiparação de salários para uma mesma função, em relação aos homens, o outro grupo ainda luta para que seus filhos não nasçam em banheiros ou no chão dos hospitais. De outra forma, talvez a Marina Silva se preocupe com a educação delas e com a formação de lideranças em bairros, comunidades e entidades de classe, para que no futuro a participação delas nos espaços de poder seja mais numerosa e efetiva. E a Val Marchiori se preocupa com o que? Helloooo!

Pode parecer engraçado, mas hoje em dia muitas pessoas tem uma visão romântica dessa data. Você acaba escutando comentários como “A mulher só quer atenção.”, “Nós merecemos um pouco de carinho.”. É uma coisa ingênua, mas que no fundo é verdade. É um sentimento juvenil, que assume uma faceta diferente de mulher para mulher, dependendo da circunstancias da vida que leva. Têm aquelas outras frases clichês de jornal televisivo “A mulher cada vez mais conquista o mercado de trabalho.” ou “Elas estão dominando o mundo.” Eu, sinceramente, penso que se o mundo é tão perverso e difícil atualmente, talvez seja em grande parte culpa dos homens. Faço a mea culpa, não por que esteja diretamente envolvido nos erros. Mas pelo fato de que faço parte de algo maior, algo que transcende a mim, mas que na qual estou envolvido de alguma forma. Enfim, o que queria dizer é que se objetivo for nos tornar, todos nós, mais escravos ainda do que já somos, por favor, mulheres, fiquem em casa.

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